(Vídeo reportagem no final do artigo)
No início de setembro, num domingo chuvoso, fui à descoberta dos exemplos de circularidade mais inspiradores da Holanda, tendo partido em direção ao norte de Amesterdão. O destino era “De Ceuvel” que se intitula como um “parque de diversões na cidade para a inovação, experimentação e criatividade, de modo a tornar a sustentabilidade tangível, acessível e divertida”. E após ter realizado o tour, posso-vos assegurar que esta descrição assenta que nem uma luva, neste que é provavelmente um dos locais mais circulares de Amesterdão e da Europa.
De Ceuvel é uma iniciativa que iniciou em 2013, desenvolvida em cooperação entre várias entidades, onde se incluem engenheiros, arquitetos, criativos e empreendedores sociais.
Este foi o projeto vencedor de um concurso lançado pelo Município de Amesterdão, que pretendia encontrar uma solução para o espaço onde atualmente se encontra o De Ceuvel, mas que na altura estava ao abandono. Ao terem sido vencedores, este grupo de changemakers teve direito ao acesso, transformação e dinamização do terreno, durante um contrato de 10 anos.
Atravessei o ferry até ao norte de Amesterdão e de lá caminhei até a este espaço incrível. Na chegada ao Café do De Ceuvel, com ambiente com super boa onda, eco-friendly e muito apetecível para boas conversas entre umas quantas bebidas e petiscos, fui recebida pela Milly (Emily Warner), responsável por realizar o tour, e pelos restantes participantes.
O começo do tour deixou-nos agradavelmente surpreendidos. O local que hoje é o De Ceuvel, foi em tempos um estaleiro. A sua antiga atividade deixou como "herança", solos altamente poluídos.
De modo a reverter esta situação, por todo o espaço foram plantadas espécies que têm a capacidade de absorver a poluição dos solos como salgueiros e relva elefante.
De tal forma, que de tempos a tempos, as plantas têm de ser retiradas e tratadas como resíduos perigosos. Assim, este espaço contribui para a regeneração e descontaminação dos solos, impactando positivamente ao nível social, ambiental e económico.
Estas plantas acompanham o passadiço, que serpenteia ao longo do espaço e permite-nos deslumbrar com uma vista magnífica sobre o rio IJ e aceder aos escritórios dos vários empreendedores aqui sediados.
Por todo o lado onde olhamos, percebemos que Reutilizar, Reparar e Restaurar, são palavras de ordem.
A grande maioria dos escritórios são feitos de antigas embarcações. Esta foi uma escolha que trouxe vantagens para todos os envolvidos. Os antigos donos das embarcações, quando querem “descartar” os seus antigos barcos, têm que pagar para que isso aconteça (cerca de 300 €).
Por esta razão, quando este projeto disponibilizou-se para receber estas embarcações, os seus antigos donos cederam-nas de bom grado, pois assim evitaram o custo associado ao seu fim de vida útil.
Para os fundadores do De Ceuvel foi igualmente uma vantagem, pois tiveram uma poupança acentuada através do acesso às estruturas-base, para construir os escritórios.
Atualmente, estes escritórios estão cheios de vida, sendo a sede para vários artistas e empreendedores circulares, como The Dutch Weed Burguer, De Workship, The Metabolic Lab, The Hotel Asile Flottant, The Studio Valkenier e tantos outros.
O De Ceuvel é uma infraestrutura em constante evolução e as várias intervenções que têm sido realizadas ao longo dos anos de modo a tornar este espaço cada vez mais sustentável, contaram com a participação de voluntários, onde se incluem as pessoas das empresas residentes e voluntários exteriores.
O envolvimento dos vários membros deste espaço, leva a um maior sentimento de pertença e a uma maior compreensão e participação nas várias medidas que existem para promover a sustentabilidade do local.
As várias embarcações estão equipadas com painéis solares, sendo estes responsáveis por produzir cerca 25% da energia consumida neste espaço.
Do outro lado da margem conseguimos ver um conjunto de casas flutuantes, que formam aquele que foi considerado o bairro mais sustentável da Europa. Chama-se Schoonschip e é composto por 46 casas, sendo estas preparadas de modo a serem praticamente autossuficientes. O lixo é utilizado para produzir biogás, os telhados possuem hortas onde são produzidos alimentos e são equipados com cerca de 500 painéis solares.
O facto deste ser um espaço que desenvolve iniciativas pioneiras e não convencionais, levou a que existissem situações, onde o atual enquadramento legal acabou por travar a continuidade de certos projetos.
Este é um claro exemplo que comprova a importância de, à medida que vamos testando e promovendo a transição circular, assegurar que a legislação vai sendo atualizada, de modo a estar alinhada com esta mesma evolução.
Na lateral da zona do café, existe ainda uma estufa, onde através da técnica de aquaponia, são produzidos diversos alimentos como ervas aromáticas e vegetais.
Neste processo, a água é puxada através de bombas e encontra-se sempre a circular por uns tubos, passando posteriormente por um aquário com peixes, que vão purificar novamente a água.
Este processo permite uma poupança substancial da água necessária para produzir estes alimentos. O Café De Ceuvel, é igualmente um laboratório vivo, sendo pioneiros na implementação de medidas, que promovem a sustentabilidade e a circularidade do espaço.
Durante todo o ano são organizadas diversas iniciativas relacionadas com os temas da circularidade, sustentabilidade e impacto social, como transmissão de filmes e documentários, workshops, talks, mercados e festivais.
Veja a vídeo reportagem:
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Autora: Mariana Pinto e Costa
Fontes:
Informações disponibilizadas durante a tour presencial, realizada por Emily Warner (setembro, 2020)
De Ceuvel site oficial (2020) disponível em: https://deceuvel.nl/
Metabolic site oficial (2020) disponível em: https://www.metabolic.nl/projects/schoonschip/
Schoonschip site oficial (2020) disponível em: https://schoonschipamsterdam.org/#site_header
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